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Economia – O churrasco ficou mais barato?

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O chamado “Tarifaço de Trump”, que elevou as tarifas de importação da carne bovina brasileira para os Estados Unidos de 26,4% para 76,4%, trouxe forte impacto ao setor exportador. A medida, considerada inviável para o comércio entre os dois países, pode gerar perdas de até 1 bilhão de dólares em 2025, segundo estimativas da indústria.


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No entanto, ao contrário do que muitos consumidores esperavam, esse cenário ainda não se traduziu em queda significativa nos preços da carne bovina no varejo brasileiro, mesmo em um momento de alta demanda, como o período da Semana Farroupilha no Rio Grande do Sul.

 

De acordo com o economista Douglas Luz da Silveira, em um cenário hipotético de mercado de concorrência perfeita, a retração das exportações deveria aumentar a oferta no mercado interno e, por consequência, reduzir os preços para o consumidor.

 

Contudo, na prática, diversos fatores retardam ou até neutralizam esse efeito. Um dos principais é a existência de estoques adquiridos anteriormente pelo varejo, ainda com preços mais elevados no atacado, o que impede repasses imediatos das quedas mais recentes.

 

Além disso, há custos internos que permanecem pressionados — transporte, insumos e mão de obra — e que limitam a margem de redução. A própria cadeia de comercialização exerce influência nesse processo, já que o atacado pode registrar quedas, mas o varejo, por questões de repasse ou estratégia de margem, nem sempre acompanha no mesmo ritmo.

 

Outro ponto destacado por Silveira é a intervenção governamental: compras públicas de carne bovina, realizadas para sustentar a indústria diante da crise, reduzem a oferta disponível e acabam atenuando eventuais quedas de preço no mercado doméstico.

 

Os dados recentes confirmam essa leitura. No atacado, o preço da arroba do boi gordo caiu mais de 8% em julho, enquanto a carcaça bovina recuou cerca de 2,8%. No entanto, no varejo, os preços permaneceram praticamente estáveis, com variações pequenas entre cortes nobres e populares. Essa diferença de comportamento mostra a defasagem entre os mercados e reforça a avaliação do economista butiaense.

 

Assim, embora o “Tarifaço de Trump” represente uma barreira às exportações brasileiras e exerça pressão baixista no atacado, seus efeitos ainda não chegaram ao consumidor final. Como conclui Douglas Luz da Silveira, “o desequilíbrio entre oferta e demanda que poderia reduzir o preço da carne ao consumidor é amortecido por estoques, custos internos e políticas públicas de apoio à indústria, o que explica por que o churrasco do gaúcho continua custando caro, mesmo em um cenário adverso para as exportações”.


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